Nunca se discutiu tanto gênero. A discussão que rodeia o papel da mulher perante a sociedade, a luta pela igualdade dos salários, a ocupação de cargos importantes, o fim da violência doméstica e a desconstrução do machismo estrutural são assuntos que encontramos diariamente em filmes, séries, programas, músicas, todo tipo de entretenimento e plataforma de acesso.
Ainda assim, continuamos vendo marcas e empresas se posicionando de forma conservadora — e clichê — ao divulgar produtos e serviços para o público feminino, mesmo com tanta informação disponível sobre o assunto.
Comprovamos por meio de uma pesquisa realizada pelo SPC Brasil que 58,5% das mulheres afirmaram que a propaganda não retrata a mulher real e não se sentem representadas. Quase 60% das entrevistadas acreditam que as mulheres retratadas na publicidade são muito diferentes fisicamente da realidade, 32% citaram que se sentem incomodadas com a objetificação e sexualização das mulheres na propaganda e 30% não gostam da imagem da mulher padronizada que é construída pelas marcas.
Analisando os dados da pesquisa, nos perguntamos: quais são os erros cometidos pela mídia ao atender o público feminino?
Para entender sobre o assunto, convidamos a comunicadora Jade Britto para contar quais foram os seus desafios no início da carreira e como surgiu a sua agência voltada para mulheres. Jade é natural da capital mineira, formada em Publicidade e Propaganda pelo Centro Universitário de Belo Horizonte, co-fundadora da agência Empower e redatora de conteúdos.
Como iniciou o seu processo de identificação com a área de Comunicação?
Meu processo de identificação com a área da Comunicação acabou sendo na faculdade. Quando estava no ensino médio eu acabei perambulando pela ideia de fazer vários cursos, como moda, jornalismo, arquitetura, direito, medicina. Até então eu estava estudando para passar em medicina, porém, tive a oportunidade de me formar pelo ENEM - como já havia feito 18 anos - e pular o terceiro ano do ensino médio indo direto para a faculdade. Optei por fazer isso, e lembro que duas semanas antes do início do ano letivo eu ainda estava no processo de decidir o curso. Na época eu morava em um bairro universitário com duas faculdades, lembro que entrei no site delas e vi quais os cursos disponíveis. Acabei esbarrando em fotografia, mas a única opção era o técnico, como eu queria graduação acabei procurando algo que pudesse se aproximar disso. Vi que na grade de Publicidade e Propaganda tinham aulas de fotografia e então selecionei o curso. Foi bastante aleatório e nada planejado. Por isso falo que caí na comunicação de paraquedas.
Quais foram os seus primeiros passos como empreendedora?
Meu primeiro contato com o empreendedorismo foi por meio de uma conta no Instagram, chamada Moving Girls. A empresa foi fundada por Camila Vidal, formada em design, que resolveu largar o CLT para empreender e criar sua própria agência de publicidade. O início da trajetória dela me chamou muita atenção, foi algo com o qual eu me identifiquei e passei a acompanhar nas redes sociais. Posteriormente, no meu último ano de faculdade, o meu TCC veio a ser a idealização e a criação de uma agência de publicidade. Criamos e estudamos as vertentes do marketing, com a ajuda dos professores orientadores, e desenvolvemos uma campanha para um bar-restaurante de comida vegana de Belo Horizonte.
Como se deu o processo de criação da agência voltada ao público feminino?
Acredito que por ser mulher esse processo foi uma das partes mais fáceis. Todas as pessoas envolvidas com a agência eram mulheres, e optamos por trabalhar com marcas de mulheres em que o público de foco também fosse feminino. Com isso, acredito que a equipe sempre teve uma sensibilidade maior de saber como trabalhar a comunicação, e acabava que o processo flui de uma forma bastante natural, porque era algo que já estávamos acostumados a fazer.
De que forma você acredita que a comunicação online impacta no papel social da mulher?
Por muito tempo a mulher teve que viver achando que muitos lugares e muitas oportunidades não foram feitas para ela. Isso se deu, principalmente, na falta de representatividade por parte das mídias, tanto em forma de entretenimento quanto das marcas. As mulheres não acreditavam que isso era possível, porque não viam mais ninguém fazendo. Por isso é importante trabalhar a comunicação (tanto no off quanto no on) para que você mostre para a mulher onde fica o posicionamento dela na sociedade - no caso, onde ela quiser.
Ainda existem tabus para mulheres que sonham em se tornar comunicadoras no mercado?
Falando pela minha experiência, acredito que essa pergunta possui duas respostas, se formos olhar os perfis das empresas. Sobre trabalhar com comunicação em agências de publicidade: não senti nenhum tabu. Inclusive, em todas as agências por onde passei as funcionárias mulheres sempre foram metade ou então mais do que a metade da equipe. Cargos de liderança são bastante comuns. Além do que as agências estão sempre realizando projetos de inclusão de mulheres trans e também de pessoas pretas. Sobre trabalhar com comunicação em departamentos de marketing dentro de uma empresa: nessa área já sinto que há um tabu muito forte. Nenhuma das minhas experiências foram boas. Há muito machismo, falta de representatividade e falta de confiança por parte dos líderes (que são praticamente todos homens brancos). Sobre trabalhar com comunicação empreendendo: o tabu aqui depende de qual o tipo de perfil de cliente você quer atender. Sugiro filtrar por pessoas que você se sentiria confortável trabalhando e pesquisar sobre o comportamento social da empresa na qual você está se afiliando.
Hoje, qual o seu prazer em comunicar?
Apesar de ter entrado na comunicação sem saber qual área da publicidade eu queria seguir, uma coisa sempre foi certa para mim: eu queria, de alguma forma, fazer a diferença. E esse é o meu prazer. Gosto de saber que meu trabalho é necessário para as marcas com a qual eu trabalho.
Quais desafios enfrentaram aqueles que pretendem se profissionalizar na área?
Hoje em dia, de acordo com reformas na lei, não é mais necessário ter um diploma de Jornalismo ou Publicidade para se declarar comunicador, jornalista ou publicitário. Isso é uma questão. Claro que não significa que é de todo ruim, mas você precisa saber que ter um diploma não é mais tão um diferencial. De qualquer forma, ainda super recomendo que uma graduação presencial seja feita, digo isso porque foi dessa forma que consegui fazer contatos na área. Comunicação é 50% trabalho duro e 50% contatos, infelizmente não tem como escapar do networking.
Para acompanhar o trabalho da Jade Britto, acompanhe suas redes sociais clicando aqui!
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