Depois das apresentações internacionais de inverno 2023, a expressão quiet luxury está por toda a parte. É a tendência do momento. Em bom português, significa luxo silencioso, e representa um estilo discreto, sem nenhuma ostentação, com predileção por roupas clássicas e, em tese, feitas com materiais de altíssima qualidade e construção primorosa.
É uma categorização na qual a Bottega Veneta se encaixa perfeitamente. A Hermès nem se fala. A italiana Brunello Cucinelli, famosa pelos seus cardigãs e suéteres de cashmere, idem. E tem outras correndo atrás, como Prada, Miu Miu, Ferragamo e até a controversa Balenciaga.
Existem algumas hipóteses sobre o sucesso da tendência. Tem quem diga que é uma maneira de as marcas de luxo se protegerem da possível recessão econômica, que analistas do mercado financeiro preveem para o fim deste ano e começo do seguinte. Não por acaso, o termo ganhou fama na moda em 2008, logo após o colapso do mercado imobiliário estadunidense, responsável pela crise global daquele ano.
Em épocas de escassez, roupas atemporais, que resistem às nuances dos ciclos e não ficam datadas, são compras mais seguras. Você não vai enjoar tão rapidamente e nem parecer uma maluca alienada esbanjando riqueza na rua da amargura.
Outro suposto motivo pelo interesse no estilo é simplesmente o cansaço com os excessos que se tornaram via de regra nos últimos tempos. Cada nova tendência chega para marcar o fim da anterior e dar início a um novo ciclo de moda. A seguir, apresentamos alguns nomes em solo nacional que são adeptos da discrição, da simplicidade e de uma imagem menos estridente.
Weider Silveiro
Foto: Desfile de Weider Silveiro na SPFW 55/ Divulgação.
Quando criou sua marca, quase 20 anos atrás, Weider Silveiro tinha um único objetivo: oferecer uma roupa bem feita, feminina e contemporânea às mulheres nordestinas. “Sentia falta na região. Em São Paulo, existiam marcas com esse perfil, como Reinaldo Lourenço e Alexandre Herchcovitch, mas eram inacessíveis pelo valor e pela questão física da (falta de) distribuição”, diz o estilista. O propósito permaneceu, apesar da mudança para a capital paulista, onde trabalhou por anos com Walter Rodrigues, que ele considera “seu grande mestre”. Dele, puxou o gosto por volumes geométricos e o primor da costura e construção. “Ombros ora angulosos, ora arredondados são algo que sempre apresento em minhas coleções. Gosto dessa alfaiataria maximizada”, declara. Outras constantes são o uso de cores e de elementos surpresas em meio ao controle de formas e tonalidades. “Não tenho vontade de fazer uma coleção sem trazer algo novo – seja um tecido, seja uma textura.” Por isso, considera sua marca um laboratório de ideias. “Mas a roupa, antes de qualquer coisa, precisa ser muito bem feita. Minha base é modelagem e acabamento.”
Rocio Canvas
Foto: Rocio Canvas, de Diego Malicheski / Divulgação.
Foi durante o curso de design de moda no Senac que Diego Malicheski se apaixonou por modelagem. “Fiquei obcecado pelo Cristóbal Balenciaga e pela maneira como ele fazia essa coisa tridimensional. Dior e Margiela também eram inspirações”, relembra o designer, que desde 2017 comanda a Rocio Canvas. Não à toa, seu braço direito é a modelista Karol Viana, além de toda sua equipe interna de costureiras. “São essas pessoas que permitem um resultado bem acabado e muito bem estruturado”, fala, apontando um blazer oversized com bolsos frontais como um dos best-sellers da etiqueta. “É um modelo que temos desde nossa primeira coleção.”
Anacê
Foto: Desfile da Anacê na SPFW 54 / Divulgação.
Tirar a gravata – e outros códigos sociais – do escritório é o objetivo da Anacê desde 2019, ano em que a marca foi lançada. “A alfaiataria é uma roupa que conversa muito com o jovem e com o lifestyle de uma cidade cosmopolita como São Paulo”, diz Ana Cecília Gromann, que há dois anos comanda sozinha a etiqueta cofundada com Ana Clara Watanabe. “Esse estilo de roupa traz uma memória afetiva, um resgate ao guarda-roupa dos pais. Dessa forma, apresentamos uma mulher meio tomboy, ao mesmo tempo em que tentamos desmistificar o masculino e colocá-lo num lugar mais sensível.” Para isso, brinca com códigos da alfaiataria clássica e os combina a recortes e comprimentos contemporâneos.
Modem Studio
Foto: Modem Studio, de André BoffanoFoto / Divulgação.
“De dois anos pra cá, só uso matérias-primas de excelência, e tento usar cada vez mais matérias-primas brasileiras”, afirma André Boffano, fundador da Modem Studio. Na próxima coleção, mais de 50% das peças serão produzidas com algodão nacional. O material, no entanto, será apresentado de diferentes maneiras: do cru, passando pela sarja e até o jacquard. Criada em 2015, a grife interpreta elementos das artes plásticas e da arquitetura para o guarda-roupa cotidiano. Entre seus destaques, estão camisas sociais desconstruídas, regatas de tricô e capas que viram ponchos. “Desde o início, o objetivo é fazer produto. Muito antes de pensar apenas em imagem ou em desfile, queríamos fazer uma roupa boa”, diz o designer, que hoje está presente em mais de 30 multimarcas ao redor do país. “O caminho mais fácil era abrir uma loja própria. Mas para chegar a diferentes lugares, preciso do atacado. E esse é o meu foco, porque a realidade do Brasil não é apenas a do consumidor paulistano.”
Fonte: ELLE.
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