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Memorial do Bordado: recontando histórias


Foto: Acervo Memorial do Bordado


Símbolo de ancestralidade, o bordado manual carrega uma riqueza cultural dos antigos impérios e rotas comerciais, além de possuir características distintas variantes de espaços geográficos e sociais.


Quando os tecidos deixaram de ser unicamente utilitários como ferramenta de proteção do corpo e passaram a criar novas estéticas e comunicar experiências, o bordado nascia como forma de representação do que era ornamentado. Sendo assim, o bordadeiro passa a ser um contador de histórias.


Para manter viva a tradição do bordado, Maria do Carmo Guimarães Pereira fundou a Maria Arte e Ofício, escola manual de bordado em Belo Horizonte, e idealizou a instalação do Memorial do Bordado. O acervo conta com mais de 20 malas e baús, junto a moldes centenários, repletos de doações e aquisição datadas de épocas distintas com bordados exclusivos que "valem ouro" aplicados sobre camisolas, enxovais, toalhas e demais superfícies têxteis.

Foto: Acervo Memorial do Bordado


Como surgiu o Memorial do Bordado e quem integra essa equipe?

A ideia de um Memorial do Bordado nasceu com Maria do Carmo Guimarães Pereira, fundadora da primeira escola de bordado, o Maria Arte e Ofício em Belo Horizonte. Reconhecido como um espaço de referência no ensino, na preservação e no estudo da arte do Bordado, são ali realizados encontros de grupo de estudo, pesquisas, cursos e exposições. Foi se constituído ao longo de 30 anos um acervo relevante e de importância histórica e cultural de peças antigas bordadas, livros, riscos, documentos, revistas, maquinário e objetos ligados ao fazer do Bordado. Esses quase 9.000 itens constituem hoje o acervo do Memorial de Bordado MAO que segue crescendo com novas doações e aquisições. A estruturação do Memorial está sendo feita por uma equipe voluntária, formada por Maria do Carmo G Pereira, Maise Fernandes, Natália Foscarini, Nísia Werneck, Ana Maria Werneck, Ana Laura Silva Guimarães, Maria Alice Araújo Assunção e Eliane Tavares Sales. O Memorial conta com o apoio financeiro da APAB: Associação pela Preservação da Arte do Bordado, que se constitui de associados e amigos.


Como surgiu a mão de obra do Bordado no Brasil?

O Bordado esteve sempre presente na história do Brasil e foi trazido pelas mãos dos primeiros navegantes que, usando agulha e linha, costuravam suas roupas e remendavam as velas das naus que chegavam ao novo continente. No processo da colonização novos bordadores/as chegavam à terra brasilis e propagavam esse fazer manual. Nos conventos, nas casa de acolhimento, nos lares e nas escolas o Bordado foi sempre uma a atividade propiciada às mulheres. Escravas domésticas aprendiam com as senhoras da Casa Grande esse labor e quando libertas bordavam suas roupas, seus estandartes e ganhavam o seu próprio sustento atendendo às demandas da Igreja, da nobreza e das classes mais abastadas que, com frequência, requisitavam seus serviços.

Foto: Acervo Memorial do Bordado


Nosso "fazer manual" brasileiro possui características próprias?

Assim como somos uma miscigenação de raças, também o nosso Bordado tem essa característica. O Bordado de cada região brasileira traz as características do imigrante que ocupou aquele território. O do Nordeste, guarda forte influência do Bordado holandês, o do Sul traz a influência italiana, ucraniana e ainda outras. Em Minas Gerais, temos um bordado intimista, requintado e elaborado, como nossa existência velada pelas montanhas que nos cercam, nossas igrejas barrocas e nossa religiosidade.


De que forma o Bordado está ligado a ocupação feminina no mercado de trabalho?

As mulheres descobriram com o fazer do bordado uma atividade profissional que possibilitou a elas, entrada no mercado de trabalho. Grupos são formados, por exemplo Grupo Meninas do Cafezal/BH que receberam treinamento e com persistência elas hoje se constituem como uma Cooperativa atuante na área. O exercício do Bordado é reconhecido como um fazer intrínseco ao território feminino. Os homens estão a descobrir essa habilidade manual e tb se destacam e na atualidade vários artistas bordadores usam do Bordado em seus trabalhos pictóricos e com isso introduzem o Bordado no mundo das artes plásticas. As confecções ligadas à moda que, através do bordado manual, buscam dar um toque diferenciado em suas coleções, dão às profissionais do bordado uma oportunidade de trabalho e reconhecimento.


Qual a importância do Bordado hoje, comercialmente?

Embora produzido em pequena escala, o bordado manual tem o seu valor reconhecido, pois cada peça é única e traz o empenho de alguém que sobre ele se debruçou. Ele é o resultado de escolhas pessoais do profissional bordador: o risco, a cartela de cores, o tipo de tecido, os pontos ideais. É assim uma criação daquele que se empenhou na idealização do risco do bordado e o desenvolveu. Cada peça bordada tem uma aura própria e por isso tem um custo diferenciado. As peças brasileiras bordadas que chegam ao mercado externo têm sua qualidade reconhecida pela criatividade e bom gosto. Temos um caminho a percorrer dentro do mercado e no reconhecimento do valor do Bordado.

Foto: Acervo Memorial do Bordado


O Bordado industrial afetou a prática manual a ponto de extinguir a mesma?

O surgimento da revolução industrial trouxe grandes modificações e preocupações no cenário do bordado à mão. Não há como competir na produção com as máquinas eletrônicas de bordado cada vez mais sofisticadas e com maior produtividade. O Bordado à mão vai se restringindo ao mercado mais requintado e exigente que reconhece a aura que envolve uma peça bordada à mão e no valor que ele agrega ao produto final. Estamos em um momento de valorização do fazer manual e no reconhecimento do seu valor. Tem sido uma preocupação a escassez de mão de obra que a cada dia se torna mais real. O depoimento de várias bordadeiras por todo o mundo mostra a preocupação com a formação de mão de obra. As jovens não vêm o fazer manual como um trabalho bem remunerado e não se interessam em aprender e exercer essa profissão. Todavia na contra mão dessa verdade, temos a realidade das redes sociais que ao difundirem hoje, de forma tão intensa as manualidades, propiciam e incentivam as jovens a se interessarem por essa arte milenar e ancestral. Vamos em frente!


Como é possível integrar-se ao Memorial do Bordado?

Não deixe de participar dos Encontros do Memorial que acontecem todas as segundas quintas-feiras do mês. São temas relevantes sempre ligados à história da arte do Bordado. Consulte a agenda no Instagram @memorialdobordadomao.

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Moda de rua

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