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Moda e Economia estão muito mais próximas do que você imagina.

Você já parou para pensar quantas viagens a sua roupa fez até chegar no seu guarda-roupa? Se for uma blusa ou calça nacional ela pode não ter cruzado o oceano, mas com certeza carrega muita história em cada trama.


Foto: Reprodução.


A indústria têxtil é uma das mais antigas do país, existe há quase 200 anos, e é também uma das poucas com autossuficiência. Essa cadeia vai dos campos de algodão até uma loja de bairro, passando pelas tecelagens, pranchetas de designers, confecções e desfiles de moda. Entre as indústrias de transformação do Brasil, a têxtil só fica atrás da alimentícia na geração de empregos, visto que a cadeia é longa e cheia de ramificações.


Para se ter uma ideia maior desta realidade, é válido pontuar que o faturamento de toda cadeia têxtil foi de 194 bilhões de reais em 2021. É no campo onde começa essa economia bilionária e nessa área o brasil tem muito para oferecer ao mercado. 


" O Brasil é o quarto maior produtor de algodão do mundo - do tipo fibra média - e o segundo maior exportador, então nós somos uma grande plataforma produtiva do agro e de matéria prima rica para confecção de tecidos e vestuário. O algodão brasileiro é 85% certificado, a maior parte dele é não irrigável, o que reduz a intensidade do uso de água. E isso estendido a toda cadeia produtiva, com programa de certificação que nós temos junto com outras entidades, faz com que o Brasil possa ser destaque nessa agenda de produtos ecologicamente responsáveis."

diz Fernando Pimentel - CEO Presidente da ABIT em entrevista ao Giro Econômico


Fotos: Reprodução / Cadeia de produção de algodão.

O mundo inteiro precisa saber mais sobre a diversidade da produção de algodão no Brasil. Temos além dos mais conhecidos, por exemplo, o algodão do cerrado - que é mais longo e também usado com fim medicinal -, também já temos plantação de algodão colorido - que é feito em Pernambuco - não precisa passar pelo processo de tingimento, isso faz com que o tecido de algodão fique mais macio, mais puro, com um caimento melhor e já elimina uma etapa da cadeia produtiva. É preciso explorar e abordar uma pouco mais sobre isso, o que o país tem conseguido alcançar pela biotecnologia, pode ser um grande aliado para o crescimento e reconhecimento têxtil local.


O Brasil movimenta todos os setores da cadeia produtiva da indústria têxtil e de moda, mas porquê este fato não garante preço baixo dos produtos nas lojas?


Nós temos uma série de gargalos ao longo da produção e essa produção toda é muito extensa. Quando você pega a produção desde a plantação do algodão até a confecção da roupa, nós temos uma série de problemas com logística, com a forma em que a gente escoa a mercadoria e também não podemos esquecer que nós ainda temos uma quantidade muito grande de trabalho manual na confecção das roupas - diz Carla Beni Economista e Professora de MBA da FGV em entrevista ao Giro Econômico.


A primeira coisa que a gente teria que resolver no Brasil é o problema da logística e da infraestrutura, o custo do escoamento da produção aumenta de 30% a 40% só pelo fato da gente não ter estradas boas, portos e aeroportos funcionando de forma dinâmica. Do ponto de vista das tecnologias a gente tem avançado, avançamos na tecnologia 4.0, na indústria de impressão 3D… Mas acho que para uma boa organização da produção em grande escala são pontos essenciais o network e as relações politico econômicas nos setores de transporte do país, e claro, minimizar as possibilidades de hiato tecnológico ao longo dos elos da cadeia.

Ana Lucia Silvia - Prof. Economia Mackenzie e Pesquisadora de Economia da Moda


Uma boa via de resolução destes gargalos na cadeia produtiva, a fim de viabilizar o consumo local e supervalorizar a exportação dos produtos têxteis, é o apoio governamental a longo prazo em grandes investimentos financeiros de infraestrutura fundamentais para a produção e logística deste setor.


Fotos: Reprodução.

Outro nó da indústria brasileira tem as compras atribuídas à China através de plataformas digitais desde o período pandêmico. Conforme dados da receita federal, esse e-commerce cresceu 150% nos últimos 5 anos isso provocou o sufocamento de várias cidades cujo a economia girava em torno das cadeias de produção da área têxtil.


O Brasil tem polos têxteis importantes na região Sul, na região Sudeste e na região Nordeste. Então o entorno da região Metropolitana de São Paulo, assim como a região do Vale do Itajaí em Santa Catarina ou mesmo o Agreste Pernambucano, são grandes produtores de vestuário e dos itens têxteis, são cidades que concentram todo o maquinário, toda a logística e toda a expertise da área, o que não possibilita de forma simplificada uma mudança rápida para outros segmentos da economia caso necessário, gerando uma grande dependência de renda neste ramo.


Para quem analisar este setor no Brasil, também pode ser perceptível uma possível falta de olhar mais ambicioso para além das nossas fronteiras, visto que 97,5% da produção brasileira têxtil e de vestuário é para atender o mercado interno. Dentro da curva do valor de um produto você tem a qualidade do tecido, o acabamento das peças, as pesquisas de tendências, de desenvolvimento e de tecnologia, mas o que realmente é importante para a criação de valor de um produto e distinção deste para os demais criados simultaneamente é o design e nós somos muito bons nisso. 


Somos referência mundial em moda praia e jeanswear, por exemplo. Vários estilistas brasileiros já marcaram presença em tapetes vermelhos no mundo a fora, mas só a vitrine intencional não é o suficiente, a indústria e o comércio precisam usar a tecnologia a seu favor e atravessar as fronteiras que ainda o separam do consumidor. 


Foto: Reprodução.

Com o ritmo efêmero das coisas, percebemos que hoje em dia o consumidor decide de maneira muito rápida - a partir do seu telefone - o que quer consumir, ele dorme e quando acorda, já está com o telefone novo em mãos. As decisões de compra, de uma forma ou de outra, estão muito ligadas à este sistema e as empresas que não viabilizarem este caminho, vão continuar tendo questões.


O mundo já não é mais rígido como antes, ele é físico e ele é digital, simultaneamente, e com certeza este é um caminho sem volta. Provavelmente, você já deve ter ouvido falar no termo figital é a fusão entre as palavras físico e digital. Trata-se de uma nova abordagem, pela qual empresas, sobretudo as que atuam no varejo, se propõem a oferecer mais que produtos, mas experiências memoráveis. Sendo assim, quando uma marca se propõe a ser figital, ela diz aos clientes e parceiros que seus processos de atendimento, venda e pós-venda online e offline estão integrados.



Foto: Reprodução.


O figital já é uma realidade uma realidade em todo o Brasil. Então hoje nós temos uma quantidade grande de lojas que só existem no digital - que você só faz a compra e a venda pela internet - , e permanecemos com as lojas físicas, que passaram a ter uma certa necessidade de fazer a junção com seus sites e trabalhar em parceria com a tecnologia, para poder estimular mais as vendas e se conectar de forma mais eficaz com o cliente. 


Dentro dessa onda vale citar o surgimento da grande tendência varejista: as guide shops, em uma tradução literal: são lojas guia. Se refere a um estabelecimento físico com mostruários de produtos para que os consumidores provem, vejam e escolham as mercadorias e, depois, recebam as compras em casa, via transportadora, pois normalmente não há estoque no local, o que otimiza todo o processo logístico de uma empresa e viabiliza o contato do consumidor mais tradicional com o produto que ele deseja. Seria como um showroom, onde o consumidor pode experimentar e avaliar os produtos antes de comprá-los no e-commerce.


A tecnologia, em geral, já vem sendo desenvolvida e um bom exemplo disso é a impressão 3D dos tecidos que vem sendo feita no país, proporcionando um novo ar para o setor de confecção e possibilitando uma maior exploração da criatividade por meio dos designers, que começam a trabalhar a partir de novas soluções estéticas e funcionais para os produtos.


Fotos: Reprodução.

Ainda assim, com toda evolução tecnológica, este setor ainda depende muito da mão de obra artesanal e neste ponto temos uma questão muito relevante para o país, pois um percentual muito considerável deste mercado é ocupado pelo trabalho feminino. É um processo tão vasto e importante, que até a costureira do seu bairro está dentro desta cadeia de setor têxtil. 


O crescimento da exportação e comércio direto da China no Brasil está apenas atrapalhando o comércio local ou está estimulando mudanças necessárias no país? 


A pandemia fez com que os comerciantes e empresários tivessem que desenvolver várias alternativas devido à pausa do funcionamento do comércio físico. Isso agilizou todo esse processo de conversão ao digital, fez com que todos correm atrás de outras modalidades de venda como Sites e outros meios de comunicação como WhatsApp, o mercado precisou se reinventar para não cair.


O problema de quando o consumidor entrou na rede para se vestir, descobriu que não havia fronteiras para a concorrência e experimentou comprar roupas mais baratas e vindas de mais longe. Nesta onda a empresa asiática Shein faturou 8 bilhões de reais em 2022 apenas no Brasil, de acordo com o relatório do Banco BTG Pactual o crescimento de 300% em relação a 2021, somando todas as plataformas internacionais, os brasileiros compraram em 2022 mais de 176 milhões de volumes. E para não perder o fluxo de vendas que conquistou, a Shein lança todos os dias 2 mil novos produtos de fast fashion. 


Este fato é bastante prejudicial para o varejo brasileiro, pois corresponde (se a gente fizer a correlação com uma venda) a quase 250 reais que não estão sendo tributados. É importante que o governo busque sempre por soluções para que traga igualdade de condições nessa relação entre o varejo nacional e as plataformas de vendas internacionais

complementa Edmundo Lima - Diretor Executivo da ABVTEX em entrevista ao Giro Econômico

A Shein anunciou que inicia sua produção no Brasil a fim de minimizar os impactos tributários recentemente definidos pelo governo. O que significa também garantia de emprego, renda e um entorno que será criado dentro dessas cidades que vão abastecer a produção da Shein, então essa mudança não pode ser vista como a solução, mas é um ponto bem importante para o Brasil. 


Enquanto a gente não desenvolver estruturas que suportem o crescimento de produção têxtil no Brasil, iremos ter que contar com políticas públicas para auxiliar no equilíbrio das concorrências e viabilizar o comércio local.


Foto: Reprodução.











Fontes de pesquisa: Giro Econômico / Olist.com / Futurecom / Exame / Abit



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Moda de rua

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