Responsável por uma alta porcentagem de danos ao meio ambiente, a indústria têxtil enfrenta obstáculos de produção para diminuir os impactos de descarte de tecidos, tingimentos poluentes, entre outros problemas. Além dos empresários, os consumidores vivem um processo de reeducar o seu consumo de forma consciente, procurando saber quem confecciona a peça final que chega até o varejo, investindo então na moda circular.
Segundo o glossário internacional de moda sustentável da Condé Nast, o design circular se baseia em três princípios: 1. minimizar o desperdício e a poluição; 2. permanecer em uso pelo maior tempo possível; e 3. permitir a regeneração de seus materiais em novos fluxos de recursos, 'fechando o ciclo' na indústria da moda. Reutilizar, reciclar e regenerar os produtos, com a intenção de chegar o mais próximo do lixo zero.
Foto: Ney Versiani, acervo pessoal.
Para falar sobre o descarte de tecidos, processos de industrialização e impactos no mercado, convidamos o especialista têxtil Ney Róblis do site Versi Têxtil.
Ney, qual a sua formação da área têxtil?
Minha formação têxtil foi concluída no Rio de Janeiro em 1974 no CETIQT, o maior centro tecnológico da América Latina, onde tivemos teoria e prática na Planta Piloto do Sistema SENAI com fiação, preparação a tecelagem, controle de qualidade, acabamento têxtil, malharia e confecção.
De que forma pode ser feita a conservação de tecidos?
Os fios são feitos de fibras que possuem propriedades que interferem diretamente na característica do tecido e sua aplicação das peças confeccionadas e posteriormente como fazer sua conservação. Portanto, conhecer as propriedades das fibras é conhecimento primordial para não danificar a peça ou perder um projeto por não saber diferenciar uma fibra mais adequada para a estação e/ou tendência no lançamento.
Existe um processo de lavagem ideal para a conservação?
Volto a citar a importância do conhecimento das propriedades das fibras. Se a pessoa lavar uma peça de viscose junto com uma peça de algodão, a viscose vai sair enfraquecida pois a viscose molhada perde resistência e o algodão aumenta resistência. Outro exemplo o polipropileno é a única fibra que pode secar ao sol devido à resistência ao raio UV.
Existem restrições quanto ao armazenamento de peças?
Todas as peças de tecidos planos ou malha não podem ser armazenados em lugares úmidos ou quentes, preferencialmente arejados e protegidos da luz solar.
De qual forma podemos reaproveitar ou reciclar tecidos?
Dependendo do que se pretende produzir devemos sempre separar os tecidos de acordo com a fibra usada nos mesmos. Natural (animal, vegetal e mineral). Sintética e Artificial. Sem esquecer das nanotecnológicas e as tingidas com corantes naturais.
Existem marcas, designers ou indústrias que já utilizam desses métodos nos processos de confecção?
Os corantes naturais já tem seu mercado consolidado no Brasil com tendência ao crescimento. Temos em uma escala crescente o algodão natural colorido com 6 cores diferentes e com produtos muito valorizados no mercado da moda.
Qual a melhor forma para “descartar” roupas?
A princípio, todas as roupas são descartadas sem que haja uma separação de acordo com a fibra usada. O descarte precisa ser informado para todos nós com uma colheita mensal melhor qualificada. É muito importante para todos nós e principalmente para os alunos de Design possam conhecer em visitas técnicas a linha de produção dos tecidos pois, um pedaço mínimo de um tecido pode virar um lenço ou uma máscara.
Além das alternativas ensinadas por Ney, também podemos investir em pesquisas sobre upcycling e customizações de peças, procurar por brechós e bazares que oferecerem atendimento presencial ou online, trocar peças do seu acervo entre amigos ou investir em marcas que produzem com compromisso ambiental e ético.
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