O caso do site de e-commerce chinês Shein vem repercutindo em todo o mercado de moda do Brasil e nos grandes países consumidores do Ocidente, onde as redes de varejo e as grandes marcas locais sentem-se profundamente ameaçadas pela competição oferecida por essa gigante da tecnologia, que construiu um market place capaz de vender produtos a preços de varejo bem mais baratos do que os produtos fabricados pelas empresas brasileiras.
Essa competitividade surgiu com o desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas em todas as etapas do processo de compra e venda, em especial na logística, onde a empresa consegue conectar indústrias localizadas em um país, diretamente a seus consumidores finais, em um outro pais, independentemente do tamanho do pedido realizado.
No Brasil, o fenômeno Shein acabou encontrando proporções incríveis, onde o seu aplicativo de compras recebeu cerca de 52 milhões de downloads, quase o dobro do verificado nos EUA, o segundo maior, com 27 milhões de downloads, e o triplo do México, o terceiro maior, com 17 milhões. Somente em artigos de moda (roupas, calçados e acessórios), estima-se que a Shein tenha vendido em nosso país R$ 7,5 bilhões em 2022, quatro vezes mais do que no ano anterior (2021), abocanhando uma fatia aproximada de 27% das vendas online do segmento. Nesse período, suas ofertas a preços estonteantemente baratos, conquistaram milhões de consumidores brasileiros e a tornou popular o suficiente para dispor hoje de uma legião de engajados defensores da empresa, na condição de verdadeiros brand lovers.
Muito além dos méritos da empresa e dos avanços tecnológicos e logísticos que ela alcançou, as autoridades brasileiras que regulam o nosso mercado, e que hoje se veem diante da concorrência da Shein, não podem fechar os olhos para a diferença abissal de tratamento entre as empresas locais, submetidas a todo tipo de regulação, pesados encargos e tributações, a um sem fim de obrigações tributárias, contábeis, trabalhistas, ambientais e certificações próprias, que simplesmente não são cumpridas ou aplicadas à Shein.
Ao se permitir que ela tenha acesso ao nosso mercado, sem pagar qualquer imposto, local ou de importação, por uma brecha na legislação gerada por um sistema tributário ultrapassado, que jamais previu a possibilidade de uma empresa ganhar escala, intermediando importações de pequenos valores.
O resultado é que surge uma distorção enorme, onde as empresas locais se encontram expostas a uma competição em que elas não têm como sair vencedoras. Mesmo que uma grande loja de departamento resolva importar os mesmos produtos, dos mesmos fornecedores da Shein, jamais eles alcançarão os mesmos preços de venda.
De acordo com os indicadores mensais de desempenho do mercado de vestuário, em dezembro de 2022, último dado disponível à época da edição dessa coluna, as indústrias do setor registraram um recuo de produção da ordem de 35,9% em relação a novembro de 2022. Os dados mostram que a produção industrial do setor foi 8,4% menor do que a observada em 2021.
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